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Aterramento de fios, planos de contingência e manejo de árvores: o que pode ser feito para reduzir danos causados por tempestades.

Passada uma semana da tempestade de chuva intensa e vendaval que derrubou árvores, destelhou casas, provocou duas mortes e deixou mais de 1,3 milhão de gaúchos sem energia elétrica, autoridades e especialistas passam a refletir sobre a prevenção e formas de lidar com esse tipo de evento climático.

O reflexo do temporal mais sentido pela população foi a demora no restabelecimento de energia elétrica - nesta terça-feira (23), ainda havia pontos sem luz no Estado. Em diversas cidades, a falta de energia também provocou o desabastecimento de água e prejudicou a conexão de internet.

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Em resposta às críticas pela morosidade na retomada do serviço, as concessionárias alegam que houve danos expressivos na rede elétrica em razão da queda de árvores sobre a fiação. Em alguns casos, as redes tiveram de ser completamente refeitas diante da extensão do problema.

Diante desse quadro, surge a discussão sobre as providências que podem ser tomadas para prevenir os efeitos das tempestades e atenuar os problemas causados às comunidades.

O engenheiro florestal Marcos Leandro Kazmierczak, doutor em Desastres Naturais, ressalta que a ocorrência cada vez mais frequente desse tipo de episódio é consequência das mudanças climáticas decorrentes das ações humanas no ambiente.

Para os próximos anos, aponta Kazmierczak, as previsões são de aumento no número de dias quentes e crescimento do volume de chuvas no Rio Grande do Sul, o que tende a intensificar as tempestades que atingem o Estado. Por isso, é preciso que os municípios elaborem planos concretos de enfrentamento a esses episódios.

— Hoje temos muito pouca prevenção, atuamos quase sempre nas respostas aos problemas — diz o engenheiro.

Motivo de discórdia entre as concessionárias de energia e as prefeituras, o manejo das árvores em áreas urbanas é outro foco das atenções dos especialistas. Nesse ponto, passado o período mais intenso do desabastecimento de energia, tanto as companhias elétricas quanto os prefeitos demonstram interesse em dialogar sobre o assunto.

Em Porto Alegre, nesta terça-feira (23), representantes da prefeitura, do governo estadual e da CEEE Equatorial se reuniram para discutir um termo de cooperação para podas e supressão de árvores.

Gerente de Serviços Comerciais da RGE, Fábio Calvo garante que a empresa também está disposta a trabalhar em conjunto com as prefeituras:

— O grande aprendizado desse temporal é como todos os atores da sociedade vão refletir sobre a arborização dos municípios. Precisamos construir um planejamento em que a rede de energia conviva de forma harmônica com as árvores.

Presidente da Federação das Associações de Municípios do Rio Grande do Sul (Famurs), o prefeito de Campo Bom, Luciano Orsi, diz que a solução desse problema passa pelo estreitamento do diálogo entre municípios e concessionárias.

— Há problemas em muitas cidades e realmente temos de trabalhar a adequação da arborização. Para isso, é preciso que tenha uma presença mais próxima (das distribuidoras).

Lições da tempestade

Providências que podem ser tomadas para reduzir os impactos de eventos climáticos futuros no RS

1 - Planos de contingência

Há forte recomendação para que municípios e concessionárias de energia elaborem e mantenham atualizados os planos de enfrentamento a eventos climáticos, a fim de agir com celeridade nos momentos de necessidade.

No caso das prefeituras, esse planejamento deve incluir a implantação de uma infraestrutura urbana resiliente e a previsão de ações para lidar com altos volumes de chuva em curtos períodos de tempo.

O engenheiro Marcos Kazmierczak aponta que o plano deve ser discutido com a comunidade e sugere a criação de linhas de crédito subsidiado aos municípios para financiar a adoção de medidas para mitigar o impacto dos temporais e estruturas para as defesas civis municipais.

2 - Planejamento na arborização

A partir do temporal da última semana, tanto prefeituras quanto concessionárias avaliam que é preciso ajustar os planos de manejo das árvores que ficam em pátios residenciais ou em vias públicas e que podem atingir a rede elétrica.

Pelas regras atuais, as distribuidoras podem atuar em podas e manejo de árvores que estejam em contato com a fiação ou em distância de até 7,5 metros.

Um dos municípios gaúchos que já conta com essa política é Campo Bom, no Vale dos Sinos.

— Temos metas de recuperação da vegetação, a comunidade participa de plantios de árvores e sempre orientamos a população sobre qual espécie pode ser plantada em determinado local — explica o prefeito Luciano Orsi.

Outro exemplo positivo recorrentemente citado por especialistas é a cidade de São Paulo, que mapeia as condições de todas as árvores plantadas em seu perímetro.

3 - Aterramento de cabos

Sempre lembrada em episódios de rompimento de fios na rede elétrica, a possibilidade de adoção de fiação subterrânea é vista como alternativa por alguns prefeitos. Em Porto Alegre, Sebastião Melo anunciou que a prefeitura só vai licenciar novos projetos de obras com os fios aterrados.

Essa hipótese costuma esbarrar no argumento de que é preciso um alto investimento para colocar a rede debaixo da terra, que teria de ser repassado aos consumidores na conta de luz.

Subchefe da Defesa Civil estadual, o coronel Marcus Vinícius Gonçalves Oliveira lembra que, em temporais anteriores, houve casos de pessoas que morreram por entrar em contato com fios de alta tensão ou com água e diz que a recomendação é sempre manter distância das redes de alta tensão.

4 - Contato com as concessionárias

Além dos consumidores, prefeitos de diferentes municípios reclamam de dificuldades no contato com as concessionárias. 

— O sistema é muito fechado. As concessionárias têm um gerente regional, que responde por vários municípios, e é a única pessoa que se pode contatar. Temos muita dificuldade no acesso à diretoria das empresas — relata o presidente da Famurs, Luciano Orsi.

Para ajustar a relação com as empresas, Orsi marcou para a próxima semana uma reunião entre os prefeitos e representantes da RGE e CEEE Equatorial.

5 - Alertas meteorológicos

No caso do temporal da semana passada, houve alertas feitos antecedência por parte da Defesa Civil estadual. No entanto, uma queixa comum entre prefeitos é de que não há como prever com maior precisão os locais que serão mais atingidos pela tempestade.

Atualmente, o Rio Grande do Sul é monitorado por três radares das Forças Armadas (um em Canguçu, um em Santiago e outro no Morro da Igreja, em Santa Catarina).

No final do ano passado, o governo estadual concluiu a licitação para contratação de serviço de monitoramento, acompanhamento e alerta meteorológico com previsão em tempo real para Porto Alegre e região metropolitana. O sistema entrará em funcionamento a partir de agosto de 2024.

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