Guaíba atinge a maior cheia da história no Cais Mauá.
- Orlando Gomes Junior
- 3 de mai. de 2024
- 4 min de leitura
Às 21h desta sexta-feira (3), o Guaíba atingiu a maior enchente da sua história no Cais Mauá. A marca de 4m77cm, registrada pela Secretaria Estadual do Meio Ambiente (Sema) no Sistema Hidrometeorológico Nacional, supera os 4m76cm registrados na cheia de 1941, que devastou, na ocasião, o Centro de Porto Alegre.
A chuva constante que atinge o Rio Grande do Sul nesta semana provoca mortes e estragos em diferentes cidades do Estado.
O fenômeno é resultado da combinação de áreas de baixa pressão com um canal de umidade que estacionou sobre o território gaúcho.
O aeroporto Salgado Filho suspendeu as operações por pelo menos 24 horas. No RS, 42 pessoas morreram e cerca de 32,2 mil pessoas estão fora de casa. As provas do Concurso Nacional Unificado foram adiadas em razão do desastre climático.
Além dos alagamentos no Centro, a sexta-feira foi marcada pelo rompimento de uma comporta na Avenida Sertório, que fez com que as águas do Guaíba invadissem áreas do Quarto Distrito. As duas pontes do Guaíba estão interditadas por tempo indeterminado.
Área do Cais Mauá foi ocupada pelas águas do Guaíba invadissem áreas do Quarto Distrito. As duas pontes do Guaíba estão interditadas por tempo indeterminado.
Guaíba pode chegar a 5 metros?
Segundo o professor do Instituto de Pesquisa Hidráulicas (IPH) da UFRGS, Fernando Mainardi Fan, há uma projeção de que a água alcance de 5m a 5m50cm se a bacia continuar no atual ritmo de elevação. A proteção da Mauá foi construída para suportar uma cota de até 6m.
O pesquisador do IPH reitera que, devido à atual velocidade da subida, a cidade deve estar preparada para evacuação quando chegar à cota de 5m e, com 5m50cm, a retirada da população já deve estar concluída. Ele estima que, em caso de inundação, a água possa levar até uma semana para baixar.
— Os valores máximos (do nível da água do Guaíba) que estamos prevendo para ocorrer entre sábado e domingo são em torno de 5 metros. Quinta-feira, tínhamos uma perspectiva um pouco mais pessimista, de chegar nos 5,5m — afirmou..
Segundo o especialista em hidrologia, a cheia do Guaíba deve se manter no domingo (6), a depender da chuva. Ele também destacou que os cuidados deverão ser seguidos para que haja o menor prejuízo possível à população.
O hidrólogo da Sala de Situação do Estado, Pedro Luiz Camargo, lembra que o sistema de contenção de cheias da Capital foi projetado há mais de cinco décadas e afirma que a estrutura tem capacidade para suportar o volume de água atual.
— Acreditamos que a estrutura foi bem dimensionada e vai cumprir sua função. A situação das comportas que é mais crítica — diz.
Em entrevista coletiva, o governador Eduardo Leite apontou que o sistema de proteção contra cheias da Capital está sob estresse e pediu que as pessoas se afastem das proximidades de áreas alagadas. Embora tenha reafirmado que "confia na resposta" da estrutura, Leite garantiu que as equipes do Exército e da Defesa Civil estão mobilizadas para atuar rapidamente em caso de problemas.
— Mesmo onde há sistema de proteção, peço que as pessoas deixem esses locais. Por mais que a gente confie neles (bloqueios), sempre há preocupação de que possam não resistir ou que algum ponto específico tenha alguma ruptura — alertou Leite, em entrevista concedida no sexto andar do Comando Militar do Sul (CMS).
Vento deve mudar no domingo
O vento que sopra no Rio Grande do Sul, atualmente com componentes de sul, deve mudar de direção no domingo (5), deixando de atrapalhar o escoamento do Guaíba.
— Estamos com um vento que vem do oceano para o continente, um vento leste ou sudeste. O vento nesse sentido empurra a água da Lagoa dos Patos em direção ao continente. Assim, o Guaíba não consegue seguir o curso natural, que é entrar na Lagoa dos Patos e ir para o oceano, saindo pelo porto de Rio Grande — explica Henrique Repinaldo, meteorologista do Centro de Pesquisas e Previsões Meteorológicas da Universidade Federal de Pelotas (CPPMet/UFPel).
De acordo com o meteorologista, a água até consegue percorrer o trajeto necessário, mas de uma forma muito lenta, o que não ajuda a escoar o volume represado. Contudo, a culpa da situação atual dos níveis no Guaíba não está na conta do vento. A direção das rajadas é vista como um fator adicional.
A estimativa é de que o vento sudeste tenha entrado com a frente fria que se deslocou na quinta-feira (2). A partir de domingo, esse sistema se enfraquece, permitindo o ingresso de vento com componentes de norte, como é chamado. A previsão é que as rajadas venham da direção norte ou nordeste.
Repinaldo prevê, porém, que as rajadas sejam fracas. Ou seja, a intensidade do vento vindo de nordeste não deve ser forte o suficiente para representar uma melhora significativa no escoamento do Guaíba e da Lagoa dos Patos. O vento deve deixar de atrapalhar o curso natural da água, mas para reduzir o volume mesmo, é necessário que o Jacuí baixe e que a chuva diminua.
Abastecimento de luz e água
Há 321 mil pontos sem energia elétrica em todo o Rio Grande do Sul nesta sexta-feira (3).
Na área da CEEE Equatorial, são ao menos 49 mil pontos afetados.
Na área da RGE, são 232 mil pontos sem luz, a maioria em locais inundados e sem acesso
Ainda há 40 mil pontos da Certel sem energia
Voltou a operar, embora com intermitências, o sistema de abastecimento de água Moinhos de Vento, que abrange 21 bairros de Porto Alegre
As ilhas seguem sem abastecimento de água potável, pelo desligamento de uma estação de tratamento.








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