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O exemplo de resiliência de um sapateiro que atua há sete décadas em Porto Alegre.

Ele já consertou sapatos do saudoso jornalista Paulo Sant’Ana, prestou serviços ao goleiro Manga, um dos grandes nomes do Internacional, e fez as chuteiras que o zagueiro Jorge Baidek (campeão do mundo pelo Grêmio) usou na seleção brasileira. Vitor Apolinario Barth (na foto acima), 85 anos, é sapateiro há sete décadas e traduz, na prática, uma palavra que anda na moda hoje em dia: resiliência.

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Nascido em Novo Hamburgo, a “terra dos calçados”, seu Barth começou a trabalhar no dia em que completou 13 anos. Eram outros tempos, e ele estava ansioso pelo debut. Levado pelo pai, que chefiava a seção de cortes da Kildare, tornou-se desde cedo especialista em lapidar couro. 

Depois, passou por uma dezena de fábricas na região, graças aos dotes futebolísticos. Era um beque de primeira, visado nas firmas, que montavam times semiprofissionais para disputar campeonatos aguerridos. O jovem Barth aproveitou as oportunidades que recebeu para aprender tudo o que podia sobre o ofício ancestral.

Se precisar, faço sapato do zero, mas não vale a pena, porque sai muito caro — brinca ele, piscando o olho.

No fim da década de 1960, o artesão decidiu que era hora de ter o próprio negócio. Mudou-se para Porto Alegre e, em 1968, abriu a Sapataria Modelo no bairro Menino Deus. A loja está na Rua General Caldwell até hoje, firme e forte (só mudou de lado na calçada), e ajudou a construir uma família de quatro filhos (dois deles sapateiros) e nove netos. 

— Nesses anos todos, metade da concorrência fechou. Sabe por quê? O pessoal ficou para trás. Não acompanhou as mudanças — diz o homem que superou todas as crises e chegou a atuar nos Estados Unidos quando foi visitar uma filha em Los Angeles.

Surgiram os solados de borracha e os materiais sintéticos que, pelo custo mais baixo, suplantaram os calçados tradicionais. A era do tênis veio com tudo. O mercado mudou.

— Os sapateiros antigos se negavam a trabalhar com esses produtos. Só aceitavam couro. Aí, eu coloquei uma placa bem grande aqui: “Consertam-se tênis” — recorda.

Dali em diante, trabalho nunca faltou. Seu Barth ampliou a equipe e passou a restaurar bolsas, malas e mochilas, a remendar roupas e a fazer bainhas, a trocar fechos e o que mais o cliente pedisse — a única coisa que ele não aceita é vender fiado.

Os netos inseriram a loja na era digital, com direito a perfil nas redes sociais e tudo. A fama cresceu, e a procura jamais cessou. 

Como diz a famosa frase atribuída a Charles Darwin, o célebre criador da teoria da evolução, o “vencedor” não é necessariamente o mais forte. É aquele que consegue se adaptar.



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