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Vizinhos do Farol da Solidão compartilham como é viver no entorno da atração.

Com 21 metros de altura e alcance luminoso de 15 milhas náuticas, o Farol da Solidão fica situado a 60 quilômetros de Mostardas, no litoral médio do RS. O local era guarnecido por um faroleiro até 1986. Atualmente, exerce suas funções de maneira automatizada e sem a presença humana. Cercada por uma vila de pescadores com pouco mais de 700 casas, a torre vermelha impacta diariamente na vida de quem vive ao seu redor.

A coordenadora pedagógica Diovane Gomes da Conceição, 55 anos, possui uma casa quase em frente ao farol. A relação dela com o símbolo é bastante antiga, assim como suas memórias afetivas.

— A vida inteira o meu pai tinha um chalé perto da antiga casa do faroleiro. Naquela época não havia quase moradores por aqui, era uma área descampada e sem as dunas — recorda Diovane, que se divide entre este endereço e outro em Palmares do Sul.

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O farol, que atualmente apresenta problemas no funcionamento de sua luz noturna, foi fundado em 2 de setembro de 1929. Era uma torre metálica que precisou ser desmontada duas décadas mais tarde. O motivo foi a impiedosa ação da ferrugem. 

Foi reconstruído em concreto e tem como objetivo auxiliar os navegadores que passam pelo mar revolto da região. Inclusive, sua criação ocorreu em função do elevado número de naufrágios que aconteciam nessas águas.

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Os pescadores e suas famílias são alguns dos mais antigos vizinhos do farol. Dona Zulmira Josefa de Souza, conhecida na comunidade por Nena, 75, é uma das primeiras moradoras da vila. Veio de Mostardas com 23 anos. Quando chegou, havia apenas três casinhas na região. 

— O que eu mais gostava do farol era a casa do faroleiro que tinha ali. Era o que mais enfeitava a praia — conta a dona de casa, que costuma preparar peixes para os vizinhos e chegou a viver um mês na casa citada, depois que o residente foi embora.

Ela orgulha-se de ter, junto ao falecido marido, servido peixe para o navegador e aventureiro Amyr Klink durante uma passagem dele pela Praia da Solidão. O filho dela, Julio Cezar, 52, seguiu os passos do pai e também vive da pesca. Questionado sobre sua relação afetiva com o farol, ele responde de forma tímida.

— O carinho que tenho é bom.

O farol tem uma tela de arame em seu entorno. Mas parte já foi derrubada e os banhistas costumam passar por essa abertura para chegar ao mar. Na Rua do Farol, bem em frente ao ponto turístico, há uma lixeira onde o lixo se concentra e chega a se espalhar pelo chão. Quem visita o local surpreende-se negativamente com esse cenário. Também não há uma placa informativa com detalhes sobre a torre, com dados como altura, alcance nem história. 

O aposentado João Batista Bueno Terra, 73, visita o farol há 40 anos. E há 10 anos decidiu viver perto da construção. Tem uma ferragem a poucos quarteirões de distância. E exibe orgulho por um antigo trabalho executado por ele:

— Eu reformei a casa do faroleiro há algumas décadas. Tinha uma fábrica de esquadrias em Capão da Canoa.

O farol é um pedaço do paraíso. Amo esse lugar e lamentei que derrubaram a casa do faroleiro — diz, saudoso.

Veranista da localidade há mais de 50 anos, o oftalmologista Jean César Fogaça Pereira, 51, sintetiza o que representa a presença ilustre da torre para todos os habitantes dali.

— É a mesma coisa que olhar para a Torre Eiffel, mas é o Farol da Solidão.

Saiba mais

O equipamento dentro da torre inclui o Racon – sistema de código Morse que o navegante identifica por radar na embarcação. Dessa maneira, ele sabe que o sinal foi emitido do Farol da Solidão.

Ler salva vidas: a biblioteca na guarita.

Uma antiga e desativada guarita de salva-vidas chama atenção perto do Farol da Solidão. Situada a poucos metros de distância, a estrutura ganhou porta, janelas e livros, muitos livros. Trata-se de uma biblioteca comunitária criada há três anos pela psicóloga Marilise Fogaça, 55.

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Tínhamos muitos livros em casa e oferecemos para as escolas. As instituições responderam que já possuíam obras suficientes. Pegamos uma guarita desativada e uma geladeira descartada e criamos a biblioteca — explica ela.

Batizada com o nome de Biblioteca Comunitária Prof. Nair Fogaça Pereira, o espaço conta com obras variadas e para todos os gostos, como Os Ratos, de Dyonelio Machado; Meu filho, minha vida, de Fabrício Carpinejar; Vinte Mil Léguas Submarinas, de Júlio Verne; Quincas Borba, de Machado de Assis; O Jogador, de Dostoiévski; Potreiro de Guachos, de Jayme Caetano Braun; entre outras. Além dessas, há opções infantis, religiosas e também revistas.

Não é preciso se cadastrar ou pagar para pegar alguma obra e levar para casa. Tudo está à disposição dos leitores, que podem devolver o que retiraram até um ano depois. No local, que possui cerca de 500 livros, uma placa diz: "Ler salva vidas". 

A professora aposentada Nair Fogaça Pereira, 79, lecionou durante 12 anos na região. A maioria dos moradores da comunidade foi seu aluno, alguns inclusive já são pais e avôs nos dias de hoje.

— Sinto-me orgulhosa. É emocionante — resume dona Nair, que é mãe da idealizadora da iniciativa.

O que diz a prefeitura

Em relação à presença de uma lixeira em frente ao ponto turístico, a prefeitura de Mostardas assegurou que a trocará de lugar. Já sobre a criação da placa com informações do farol, não houve um posicionamento. Mas se for feita no futuro, sua instalação precisaria de autorização da Marinha. Outra opção seria colocá-la mais afastada, em área pertencente ao município.

Como chegar ao farol

O Farol da Solidão fica no 4º Distrito de Mostardas (Distrito de Doutor Edgardo Pereira Velho), próximo ao número cem da Rua Theodoro Pereira. Está situado entre os balneários do Quintão e São Simão. Para visitá-lo, pode-se ir de carro pela RSC-101 (Rodovia do Mercosul) e acessar a Estrada Praia Farol da Solidão, que é uma via de chão batido. Também é possível chegar ao local vindo pela faixa de areia da orla.


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